Prestes a completar 160 anos de vida, Santa Maria merece muito mais do que recebe na atualidade. Lamentavelmente, a cidade continua esburacada, suja e com iluminação precária, principalmente nos bairros e vilas. O município vive um preocupante surto de toxoplasmose e segue com o restaurante popular fechado. Os serviços básicos patinam e a população reclama. O Parque Itaimbé, apesar de possuir uma área agradável para o lazer da comunidade na área central, sofre com o vandalismo e a escuridão.
A cidade universitária, formadora de mão de obra qualificada, polo regional do comércio e da prestação de serviços, polo militar, dos eventos religiosos, etc, deveria ser melhor cuidada e, sobretudo, planejada. Urge a necessidade da implementação de políticas de município e não de governo após governo, com loteamento de cargos em comissão entre os partidos apoiadores da administração.
O Executivo não pode ficar na dependência de emendas parlamentares para implementar uma obra aqui, outra acolá, e fazer a máquina funcionar. É verdade que os tempos atuais são difíceis no país e no Estado, mas não fazer sequer o básico é desolador para quem anunciou mudanças profundas durante a campanha eleitoral. Isso revela incompetência ou falta de consistência nas próprias ações do governo municipal? O slogan "A cidade cuidando das pessoas", no momento, mais parece uma fake news.
A Feira do Livro de 2018 foi encerrada ontem, na Praça Saldanha Marinho, com êxito, graças ao esforço de abnegados, escritores, livreiros e apoiadores teimosos em fazer valer outro título de Santa Maria: cidade cultura. Aí reside mais uma incoerência. Na mesma praça que abrigou a literatura por 16 dias, está a Casa de Cultura, fechada e caindo aos pedaços. Discurso sem prática de verdade não combina, e a população está cheia de promessas. Santa Maria, repito, merece muito mais. O povo cansou de desculpas e lamentações.
O trânsito e a mobilidade urbana estão caóticos na cidade. A estrutura viária remonta a metade do século passado. O transporte público é caro e está aquém das condições aceitáveis. Boa parte da população, porém, entope as ruas santa-marienses com seus veículos e o caos está criado.
Por que o Plano Estratégico da Agência de Desenvolvimento de Santa Maria (Adesm) não é levado em conta pelo Executivo como deveria? O documento, como a própria Adesm define, "representa o resultado de um processo dinâmico, sistêmico, coletivo, participativo e contínuo para determinação dos objetivos e propostas, voltados essencialmente para a solução de problemas e desafios de um município". O plano é um instrumento de diretrizes para definição de políticas para orientar o desenvolvimento local. Os fóruns temáticos e os grupos de trabalho da Adesm fizeram a lição corretamente, mas quem deveria colocar as medidas em prática continua adormecido.
Infelizmente, Santa Maria não avança na proporção em que deveria e a população mais necessitada sofre as consequências. Na área da saúde, a principal reclamação recai sobre o atendimento inadequado. Na educação, as escolas municipais ainda precisam de uma melhor infraestrutura, sem falar nos professores, que seguem à espera do recebimento do piso nacional. Os demais servidores municipais também fazem por merecer remuneração e condições de trabalho mais satisfatórias.
Enfim, não é preciso reinventar a roda para mudar o atual quadro. Andar pela cidade, dialogar com o povo, ler o caderno de propostas da Adesm, entre outras ações, são caminhos possíveis para levar Santa Maria a outro patamar. Acrescente-se uma boa dose de humildade dos governantes.